sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ensinando, Pregando, Curando - Elder Jeffrey R. Holland


Nós rápida e legitimamente pensamos em Cristo como um professor—o maior mestre que já viveu ou ainda viverá. O Novo Testamento está repleto de Seus ensinamentos, pronunciamentos, parábolas e sermões.
De uma forma ou de outra, Ele ensina em cada página desse livro. No entanto, mesmo ao ensinar, Ele conscientemente fazia algo além disso, algo que dava perspectiva ao Seu ensino.
Depois do chamado inicial àqueles primeiros discípulos (que ainda não eram apóstolos), a obra iniciou-se. É isto que Mateus escreveu: “E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo”. (Mateus 4:23; grifo do autor) Eis o ensino e a pregação que conhecemos e esperaríamos encontrar. Mas, pode ser que não estejamos bem preparados para encarar a cura do mesmo modo. Contudo, lembro-me da primeira vez que me dei conta de que desde este início, desde o primeiro momento, a cura é mencionada como sinônimo de ensino e pregação. Pelo menos, há um relacionamento claro entre os três. De fato, a passagem que se segue se detém mais na cura do que no ensino ou na pregação. Mateus prossegue: “E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava.” (V. 24) Em seguida, veio o magistral Sermão da Montanha, seis páginas e meia que, a meu ver, precisariam de seis mil anos e meio para serem ensinadas adequadamente. Porém, assim que termina o sermão, Ele desce do monte e começa a curar novamente. Numa rápida sucessão de eventos, Ele cura um leproso, o criado de um centurião, a sogra de Pedro e depois um grupo descrito apenas como “muitos endemoninhados”. (Mateus 8:16) Em suma, diz: Ele “curou todos os que estavam enfermos”. (V. 16) Impelido a atravessar o Mar da Galiléia pelas multidões que agora o cercam, Ele expulsa os demônios de dois homens que estavam nos sepulcros gadarenos e depois volta para a “sua cidade” (Mateus 9:1), onde cura um paralítico confinado ao leito, uma mulher que tinha um fluxo de sangue havia doze anos (um dos momentos que considero mais comoventes e tocantes do Novo Testamento) e depois, levanta dos mortos uma menina.
Em seguida, Ele restaurou a visão de dois cegos e expulsou o demônio que impedia um homem de falar. Esse é um breve resumo dos primeiros seis capítulos do Novo Testamento dedicados ao ministério de Cristo. Agora, vejamos o seguinte versículo e seu significado para nós: “E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.” (Mateus 9:35; grifo do autor) Trata-se, com exceção de poucas palavras, do mesmo versículo que lemos cinco capítulos antes. E então, isto: “E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor. Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros.
Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara.” (V. 36–38)
Com isso, Ele chama os Doze e ordena que busquem as “ovelhas perdidas da casa de Israel. E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscita os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai”. (Mateus 10:6–8, grifo do autor) Sabemos que o Salvador é o Mestre dos mestres.
Ele é isso e muito mais. E quando diz que a ceifa mal começou e que há poucos trabalhadores, imediatamente pensamos nos missionários e outras pessoas que, como vocês, precisam ensinar. Mas o chamado é para um tipo especial de professor, o professor que, ao ensinar, cura.
Agora, permitam-me falar com bastante clareza. Ao falar de “cura”, no contexto em que estou falando, não estou referindo-me ao uso formal do sacerdócio, à ministração aos enfermos ou qualquer coisa do gênero. Não é esse o papel dos professores em nossas organizações da Igreja.
Mas, creio que ao ensinarmos, proporcionamos cura de natureza espiritual. Não posso crer que mesmo tendo sido escrito por Mateus, estariam tão centrados no ministério do Salvador junto aos desalentados, aflitos e perturbados se não houvesse motivo. Como no caso do Mestre, não seria maravilhoso medir o sucesso de nosso ensino pela cura desencadeada na vida de outros? Serei um pouco mais específico. Ao ensinar, em vez de simplesmente darem aula, por favor, façam um esforço maior para ajudar aquele astro dos esportes que está espiritualmente cego a realmente enxergar, ou aquela jovem atraente que está espiritualmente surda a ouvir de verdade, ou o líder estudantil que está espiritualmente coxo a realmente andar. Poderíamos tentar empenhar-nos ao máximo para fortalecer outros de modo tão intenso que, sejam quais forem as tentações dos demônios do inferno que os envolverem, eles consigam resistir e assim, naquele momento, se livrar do mal. Poderíamos tentar com um pouco mais de diligência ensinar com tanta eficácia e espiritualidade que realmente ajudemos aquela pessoa que anda sozinha, que mora sozinha, que chora no escuro da noite?

“E Agora, O Que Fazer?”
Talvez uma lição da vida no Quórum dos Doze me ajude a dizer o que pretendo sobre esse assunto e a evitar que vocês se confundam. O Presidente Boyd K. Packer, Presidente Interino do Quórum dos Doze Apóstolos, ele mesmo um professor de mão cheia, sempre lança uma pergunta quando fazemos uma apresentação ou exortação mútua nos Doze. Ele olha para cima como que dizendo: “Terminou?” e então indaga ao interlocutor (e, por extensão, ao restante do grupo): “E agora, o que fazer?”
“E agora, o que fazer?” Acho que é isso que o Salvador respondia diariamente como um elemento inseparável de Seu ensino e pregação. Seus sermões e exortações seriam em vão se não provocassem mudanças na vida dos Seus discípulos. “E agora, o que fazer?” Todos sabemos que há muitas pessoas que ainda não conseguiram fazer a associação entre o que afirmam acreditar e a maneira como vivem.
Orem para que seu ensino suscite mudanças. Orem para que, como dizia uma música hoje quase esquecida, suas aulas façam com que alguém literalmente “modifique seu modo de ser e aprenda a voar” (Nat King Cole, “Straighten Up and Fly Right” [1943]) Queremos que eles vivam em retidão e alcem vôos dignos. Desejamos que sejam felizes, abençoados nesta vida e salvos no mundo vindouro.

Deus Está no Comando
O nome completo do livro de Atos, que introduz o período posterior à Ressurreição do Novo Testamento, é “Atos dos Apóstolos”. Essa é uma importante idéia eclesiástica do livro, a saber, que os apóstolos foram ordenados representantes do Senhor Jesus Cristo e assim autorizados a continuar a dirigir a Igreja em Seu nome. Mas reflitamos um pouco sobre o que eles tiveram que enfrentar. Pensemos na situação difícil, o medo, a confusão, a desolação que enfrentavam os membros da nova e pequena Igreja Cristã logo após a crucificação de Cristo.
Eles deviam compreender um pouco do que estava acontecendo, mas não tinham um entendimento pleno. Devem ter ficado temerosos e confusos e os dirigentes estavam ocupados na liderança. Não é de estranhar que, desde o início (pelo menos a partir do primeiro versículo do Livro de Atos), que a Igreja continuaria a ser divinamente guiada, não guiada pelos homens. E foi importante para o povo ouvir isso naquela hora de terrível incerteza e inquietação. De fato, um título mais completo e adequado para o livro de Atos seria algo como: “Os Atos do Cristo Ressurreto Realizados por meio do Espírito Santo na Vida e Ministério de Seus Apóstolos Ordenados”. Agora, depois de ouvirem isso, percebem por que se optou pelo nome mais curto— mas o título que sugeri certamente é mais preciso! Ouçam as primeiras linhas de Lucas: “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera.” (Atos 1:1–2; grifo do autor) O governo da Igreja não mudara. O Salvador estava em outra esfera, mas a direção e liderança da Igreja era exatamente a mesma. Então, depois de entrarmos nesse assunto, recebemos continuamente manifestações do poder do Senhor por meio do Espírito Santo. O primeiro ensinamento no livro de Atos do Cristo Ressurreto aos Doze no livro de Atos é de que eles “[seriam] batizados com o Espírito Santo , não muito depois destes dias” (Atos 1:5) e que “[receberiam] a virtude do Espírito Santo, que [haveria] de vir sobre [eles]”. (V. 8) Depois que Cristo ascendeu aos céus diante da multidão, Pedro congregou todos os membros restantes da Igreja—todos os 120 deles. (Vocês têm idéia do impacto que as aflições e a oposição tiveram sobre seus números?) Cento e vinte pessoas reuniram-se e Pedro disse: “Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas”. (V. 16; grifo do autor) Para preencher a vaga de Judas nos Doze, eles oraram exatamente da mesma forma que o Quórum dos Doze e a Primeira Presidência oram hoje: “Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos”, (V. 24; grifo do autor). “Mostra qual destes (. . .) tens escolhido.” E Matias foi o escolhido. Mas esse primeiro capítulo, que coloca todos em direção ao céu, e com tanta clareza assinala a orientação divina que continuaria a dirigir a Igreja é apenas uma preparação para o capítulo 2. Nessas passagens, o próprio nome Pentecostes entra no vocabulário cristão como sinônimo de manifestações espirituais singulares e do derramamento divino do Espírito Santo sobre todas as pessoas.
A revelação veio do céu com o som “como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados” (Atos 2:2) e penetrou-lhes também a alma. “E foram vistas por eles línguas repartidas, como
que de fogo. (. . .) E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar (. . .) conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem.” (V. 3–4)
Pedro, como Apóstolo dirigente e Presidente da Igreja, pôs-se de pé e reconheceu esse derramamento do Espírito. Citou Joel, dizendo que Deus nos últimos dias “do [Seu] Espírito [derramaria] sobre toda a carne: e os vossos filhos e as vossas filhas [profetizariam], os vossos jovens [teriam] visões, e os vossos velhos [teriam] sonhos: E também do [Seu] Espírito [derramaria] sobre os [Seus] servos e as [Suas] servas naqueles dias, e [profetizariam]”. (V.17–18; grifo do autor)
Pedro continua: “Homens israelitas [dirigindo-se a uma congregação maior], escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós. (. . .) Deus ressuscitou a este Jesus (. . .) exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”. (V. 22, 32–33; grifo do autor) É uma passagem extraordinária. Os que ainda não haviam sido batizados foram tocados pelo Espírito e perguntaram o que deveriam fazer. Pedro respondeu-lhes que deveriam ser batizados para a remissão dos pecados e “[receber] o dom do Espírito Santo” (v. 38),
e 3.000 assim procederam. Em seguida, o coxo é curado e volta a andar diante do templo e a multidão acha que Pedro e João fizeram algo prodigioso. Pedro censura-os e repreende-os, dizendo que não foi o poder mortal ou santidade dos discípulos que fizeram o homem andar, mas sim de Jesus, a quem essas pessoas de Jerusalém haviam traído e matado. (Atos 3:13, 15) Ele disse que esse mesmo Jesus ainda estava dirigindo a Igreja por meio do Espírito Santo e continuaria a fazê-lo até voltar nos “tempos da restauração de tudo”. (V.21)
Quando nessa ocasião, mais 5.000 pessoas se uniram à Igreja, os fariseus e saduceus ficaram perplexos. Eles queriam saber como tudo isso era possível. Pedro concedeu a resposta clássica que vocês devem dar aos outros: “Cheio do Espírito Santo”, lemos, ele declarou que tudo era feito por e “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno”. (Atos 4:8,10, grifo do autor) Cristo não estava apenas guiando os atos de Seus Apóstolos por meio da instrumentalidade do Espírito Santo — Ele estava também falando por meio deles pelo mesmo Espírito. Esta é uma lição sobre o governo da Igreja de Jesus Cristo, tanto antiga como moderna.
O Pai e o Filho dirigem ainda hoje esta obra, exercendo grande influência sobre os líderes da Igreja, os professores e as pessoas por intermédio do Espírito Santo. E é por meio dessa mesma instrumentalidade que devemos ter um impacto na vida daqueles a quem ensinamos.

Ensinar pelo Espírito
Rogo que ensinem pelo Espírito Santo. Se não ensinarmos dessa forma, então por definição escriturística estaremos ensinando “de alguma outra forma”. (D&C 50:17) E qualquer outra forma “não é de Deus”. (V. 20) Proporcionem aos alunos a oportunidade de uma experiência espiritual de todas as maneiras que puderem. É isso que o Novo Testamento está tentando fazer por vocês. Essa é a mensagem dos evangelhos. É a mensagem do livro de Atos. É a mensagem de todas as escrituras. Essas experiências espirituais dos registros sagrados vão ajudá-los a manter outros no caminho certo e na Igreja em nossos dias, assim como ocorreu na época do Novo Testamento.
Dizem as escrituras: “E o Espírito ser-vos-á dado pela oração da fé; e se não receberdes o Espírito, não ensinareis”.
(D&C 42:14) Não se trata apenas de não querer ensinar, não ensinar direito ou ensinar mal. Não, é mais forte do que isso. Observem o tempo verbal: “Não ensinareis”. Colocando “tu” em lugar de “vós”, teremos a linguagem típica dos Dez Mandamentos. Afinal, trata-se de um mandamento. Esses alunos são de Deus, não de vocês, assim como a Igreja era de Deus, não de Pedro ou Paulo, de Joseph ou de Brigham.
Tenham bom ânimo. Deixem o Espírito agir por seu intermédio, fazendo coisas que vocês talvez não tenham o privilégio de ver ou mesmo reconhecer. Acontecerão mais coisas do que vocês imaginam caso sejam honestos de coração e estejam esforçando-se para viver da forma mais pura possível. Quando vocês chegarem àqueles momentos sublimes e quase impossíveis — ensinar sobre o que aconteceu no Getsêmani, no Calvário e na Ascensão — peço que recordem, entre tantas coisas, as seguintes duas maiores aplicações que poderiam fazer.

Cristo Permaneceu Fiel
Primeira: Em Sua indescritível e cruciante agonia e dilacerante dor, Cristo permaneceu fiel.Mateus disse que Ele “começou a entristecer-se e a angustiar-se (. . .) até a morte”. (Mateus 26:37–38) Ele voltou sozinho ao jardim e deixou intencionalmente os apóstolos esperando do lado de fora. Ele precisava fazer aquilo sozinho. Ele ajoelhou-Se e depois, conforme narra o apóstolo, “prostrou-se sobre o seu rosto”. (V. 39) Lucas diz que Ele estava “em agonia” e orava com tal intensidade que Seu suor Se tornou “em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão”. (Lucas 22:44) Marcos disse que Ele Se curvou e exclamou: “Aba, Pai”, o que corresponderia ao nosso “Papai” ou “Paizinho”. Não estamos falando de teologia abstrata. Aqui vemos um Filho implorando ao Seu Pai: “Aba [Papai, Paizinho] (. . .) todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice”. (Marcos 14:36) Quem resistiria a isso? Vocês, de qualquer filho, especialmente o Filho perfeito? “Tu podes fazer qualquer coisa Sei que podes fazer qualquer coisa. Por favor, afasta de mim este cálice”. Toda aquela oração, observou Marcos, pedia que, caso possível, aquele momento fosse suprimido do plano. É como se Ele tivesse dito: “Se houver outro plano, preferiria segui-lo. Se houver qualquer outro caminho — qualquer outro — alegremente o trilharei”. “Passa de mim este cálice”, escreve Mateus. (Mateus 26:39) “Passa de mim este cálice”, repete Lucas. (Lucas 22:42) Mas no fim, o cálice não passou.
No fim, Ele submeteu-Se à vontade de Seu Pai e declarou: “Não se faça a minha vontade, mas a tua”. (V. 42) Estas são, para todos os efeitos, as últimas palavras trocadas entre o Pai e o Filho no ministério mortal de Jesus. A sorte estava lançada. Ele passaria por tudo que Lhe sobreviesse.
Após última declaração no Velho Mundo passemos à primeira no Novo. Aos nefitas reunidos no templo, Ele anunciou: “Eis que eu sou Jesus Cristo”, (. . .) a luz e a vida do mundo; e bebi da taça amarga que o Pai me deu e (. . .) me submeti à vontade do Pai em todas as coisas desde o princípio”. (3 Néfi 11:10–11). É assim que Ele Se apresentou, fazendo a declaração que Ele sentiu que melhor O descreveria.
Se vocês conseguirem que seus alunos assumam um único compromisso motivado pelo incomparável sacrifício do Salvador por eles, o preço que Ele pagou pelas transgressões deles e o sofrimento que padeceu pelos pecados deles, deixem que percebam a necessidade de obedecer e também, em seus próprios momentos difíceis e horas de decisão, a “[se submeterem] à vontade do Pai” (V. 11) a qualquer custo. Eles nem sempre o farão, assim como nós nem sempre conseguimos, mas essa deve ser a meta, o objetivo. O principal aspecto que Cristo parece desejar ressaltar em Sua missão — mais do que as virtudes pessoais, e além dos magníficos sermões e até as curas — é que Ele sujeitou Sua vontade à do Pai.
Somos todos pessoas voluntariosas, talvez até demais. Portanto, a mensagem que o Salvador tem para cada um de nós é que nossa oferta, em semelhança à oferta Dele, é um coração quebrantado e um espírito contrito.(Ver 3 Néfi 9:20; D&C 59:8.) Precisamos abandonar nosso pequeno mundo e chorar por nossos pecados e pelos de todas as pessoas. Precisamos rogar aos outros que se submetam ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Não há nenhum outro caminho. Mesmo sem querer comparar-nos muito com Ele, o que seria um sacrilégio, saibam que o cálice que não pode passar é como uma taça que também recebemos em nossa vida assim como na Dele. Ainda que em grau muito menor, ela advém-nos por pelo menos um motivo: com a freqüência necessária para ensinar-nos que temos de obedecer a qualquer custo.

Cristo Conhece o Caminho
A segunda lição da Expiação que eu pediria que vocês lembrassem está relacionada à primeira. Se aqueles a quem você ensina por alguma razão acharem que já cometeram erros
demais, que vivem e empenham-se menos do que a luz de Cristo merece, ensinem-nos que Deus está “predisposto a perdoar”, que Cristo é “misericordioso e clemente, lento para irar- Se, longânime e cheio de bondade”. (Lectures on Faith [1985], p. 42) A misericórdia, com suas virtudes irmãs que são o arrependimento e o perdão, constitui a essência da Expiação de Jesus Cristo. Tudo no evangelho nos ensina que podemos mudar se realmente o desejarmos, que podemos ser ajudados se verdadeiramente pedirmos, que podemos ser curados, quaisquer que tenham sido os problemas no passado. A despeito das tribulações da vida há ajuda para todos nós ao longo desta jornada. Quando Cristo lhes pede que se submetam e obedeçam ao Pai, Ele sabe como os auxiliar a fazer isso. Ele já trilhou essa senda e implora que procedamos da mesma forma que Ele. Mas muito mais transitável para que eles e nós o percorramos. Ele sabe onde estão as rochas mais duras, e as pedras de tropeço e onde os espinhos e cardos são mais pontiagudos. Sabe quais trechos são perigosos e qual direção seguir quando a estrada se bifurca ou a noite chega. Ele tem conhecimento disso porque sofreu “dores e aflições e tentações de toda espécie (. . .) para que [soubesse] (. . .) como socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades”.
(Alma 7:11–12). Socorrer, nesse caso, significa “vir ao encontro”. Testifique que Cristo virá ao encontro deles e já o está fazendo, basta que recebam o braço estendido de Sua misericórdia. Quando cambaleamos ou tropeçamos, Ele está sempre perto para conceder força e equilíbrio. No final, estará a nossa espera para salvar-nos, pois por tudo isso deu Sua vida. Por mais sombrios que se mostrem nossos dias o Salvador do mundo enfrentou trevas muito maiores. Para fazer-nos recordar aqueles momentos, Jesus optou, mesmo em Seu corpo ressurreto e perfeito, por conservar, para o bem de Seus discípulos, as marcas dos cravos nas mãos, nos pés e no lado. Assim, mostra que as aflições atingem até Quem é puro e perfeito, que as dores deste mundo não são indícios de que Deus não nos ama e que as chagas um dia desaparecerão
e poderemos ser felizes. Lembre aos outros que é o Cristo ferido que é o Capitão de nossa alma, Ele que ainda leva as cicatrizes de nosso perdão, as lesões de Seu amor e humildade, a carne dilacerada da obediência e do sacrifício. Essas marcas serão nossa principal maneira de reconhecê- Lo quando Ele voltar. Pode ser que Ele nos convide, como já fez com outras pessoas, para que nos aproximemos Dele, O vejamos e toquemos essas chagas. Caso não o faça antes, certamente nessa ocasião relembrará a todos que, como escreveu Isaías, foi por nós que um Deus foi “desprezado [e rejeitado] (. . .); homem de dores, e experimentado nos trabalhos”, que Ele “foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. (Isaías 53:3, 5)
Amo este trabalho. Sinto carinho pela oportunidade que vocês têm de mergulhar neste ano no grandioso Novo Testamento e na vida de Cristo, de Quem essas escrituras testificam. Esta é Sua Igreja e estamos envolvidos numa obra grandiosa, com o magnífico rivilégio de amar as escrituras, aprender com elas e testificar uns para os outros que são verdadeiras. ■
Adaptado de um discurso proferido em uma conferência
de educadores religiosos do Sistema Educacional da Igreja,
na Universidade Brigham Young, em 8 de agosto de 2000.

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